quarta-feira, 5 de junho de 2013

Poesia Matemática

                                                        Poesia  Matemática

 Às folhas tantas
 Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia
 Doidamente
Por  uma Incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice á Base,
Uma figura Ímpar,
Olhos romboides, boca trapezóide,
Onde encontrar exercícios de matemática
Corpo octogonal, seios esferóides.
fez da sua vida
Uma vida
Paralela á dela
Até que se encontraram
No infinito.
"Que és tu?", indagou ele
Com ânsia radical.

"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."

E de falarem descobriram quem eram
- O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs -
Primos-entre-si.

E assim se amarram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das formulas euclideanas
E os exageros do Universo Finito.

Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.

E, enfim, resolveram se casar

Construir um lar.
Mais que um lar,
Uma perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O poliedro e a Bissetriz.

E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cores.

Muito engraçadinhos.
E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal,
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Frequentador de Círculos Concêntricos.
Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Denominador Comum.

Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais Um Todo,
Uma  Unidade. Era o triângulo,
Tanto chamado amoroso.

Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.

Mas foi então que Einstein descobriu  a Relatividade
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como ,aliás, em qualquer
Sociedade.



Trinta anos de mim mesmo. Millôr Fernandes.Rio de Janeiro, Nórdica,1972.












  

Nenhum comentário: